Cia. Academia inova ao apresentar Shakespeare “mineirizado” e em versão de rua - por Gilze Bara
Já imaginou ver um espaço que você
frequenta diariamente ocupado pelos mais diferentes personagens teatrais? Pois
foi isso o que aconteceu no Colégio Cristo Redentor/Academia de Comércio nos
fins de semana de setembro de 2014. Deuses, fadas, elfos e outros seres
encarnados pelos integrantes da Cia. Academia tomaram conta de áreas externas
da escola, como as escadas da entrada principal, a pracinha na lateral do
Teatro, a “rua” em frente ao Núcleo Artístico e o tradicional pátio do colégio
– tudo fazendo parte das apresentações da peça Sonho de uma noite de verão.
O clássico de William Shakespeare
foi adaptado pelo diretor do Núcleo Artístico da Academia, Ronan Lobo, e
encenado pela nova Cia., que reúne integrantes das antigas Cias. de Atores e de
Dança. Sonho de uma noite de verão ganhou
ares mineiros e versão de rua, em forma de cortejo. Sob direção de Marcos
Bavuso, 23 atores encantaram o público durante a temporada, aos sábados e
domingos no período de 13 a 28 de setembro, e na apresentação extra no dia 18
de outubro. O espetáculo, livre para todas as idades, teve as músicas
executadas ao vivo pelo próprio grupo.
No elenco, atores de 9 a 43 anos
enfrentaram o desafio de encenar o texto em meio e com a participação do
público. O espetáculo é coletivo e interativo, construído junto com a plateia. Desta
forma, as encenações se diferenciam a cada dia, de acordo com a maior ou menor
inclusão dos espectadores. O cenário foi composto por poucos adereços e
complementado com os próprios espaços das apresentações. Já o figurino foi
criado a partir da reciclagem de peças do acervo da Cia., enquanto a maquiagem
foi concebida pelo próprio grupo.
Sonho de uma noite de verão conta as confusas histórias de amor de quatro
jovens. Hermínia e Lisandro são apaixonados, mas o pai da mocinha quer que ela
se case com Demétrio, que, por sua vez, é amado por Helena. Quando os deuses
Oberon e Titânia têm um desentendimento, Oberon pede ajuda ao ser mágico Puck
para se vingar da esposa. Mas, num ato de bondade, tenta auxiliar os obtusos
mortais a darem fim a seus desencontros. Só que Puck faz tudo errado e a
confusão aumenta ainda mais. Enquanto isso, um grupo de atores ensaia uma
tragédia para ser apresentada em um casamento nobre – tragédia que, de tão
ruim, parece mais uma comédia.
As opções de “mineirizar” o texto
e apresentá-lo como um cortejo, em versão de rua, tiveram o objetivo de aproximar
a história (escrita na década de 1590) da realidade local. “A teatralidade de
Minas ocupa a rua de forma muito natural, desde suas construções
arquitetônicas, seus cultos religiosos e suas festas populares”, afirmou Ronan
Lobo, destacando, ainda, que a Cia. é um espaço de experimentação. O diretor do
espetáculo, Marcos Bavuso, também se mostrou fisgado pela possibilidade de
levar ao grupo uma nova forma de fazer arte: “O teatro é um ofício de risco sem
rede de segurança, e o grupo merecia experimentar um novo jeito de se arriscar,
de despertar outros olhares e outras possibilidades. Além disso, essa nossa
primeira experiência de rua vai nos permitir apresentar para a cidade as ruas
da escola, nas quais as pessoas transitam sem nem perceberem se tratar de ruas.
São locais onde tantos sonhos são construídos e se realizam. Trazer para as
nossas ruas pessoas que já sonharam lá é reinventar o próprio teatro.”
A Cia. Academia já expandiu a peça
para além das fronteiras da escola. No dia 19 de outubro, encenou Sonho de uma noite de verão no parque
do Museu Mariano Procópio. O público – de todas as idades – ficou surpreso ao
ver os atores ocupando ilhas, árvores e barcos no lago. Muitas pessoas que já haviam
assistido ao espetáculo na Academia foram novamente, movidas pela curiosidade
de ver a peça no Museu. Para 2015, o grupo tem a intenção de levar a arte feita
na Academia para outros espaços urbanos de Juiz de Fora e de outras cidades,
sempre imprimindo uma visão artística diferenciada aos locais que fazem parte
do cotidiano dos cidadãos.
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